Meus caros:
As Olimpíadas de Londres teminaram há cerca de 15 dias e praticamente não se fala mais nelas. É interessante pensar como um evento que mobiliza um grupo imenso de pessoas é esquecido tão rapidamente, deixando poucas reflexões mais permanentes. A emoção do momento passa e leva com ela lições valiosas que poderiamos aprender junto com as vitórias e derrotas experimentadas pelos atletas.
Resolvi, então, na postagem de hoje, resgatar um pouco alguns dos momentos que me chamaram a atenção, do que pude acompanhar das Olimpíadas de 2012. O esporte nos dá grandes exemplos de estratégia, esforço, dedicação, vitórias e derrotas. Tudo isso as vezes resumido em uma prova de poucos segundos, como na corrida de 100 metros rasos. As disputas esportivas são, portanto, um excelente espaço de estudo e reflexão do que devemos e do que não devemos fazer para alcançar qualquer objetivo que tenhamos.
Pois bem, sem pretensão exaustiva, começo pela ginástica olímpica brasileira e a medalha de ouro de Arthur Zanetti nas argolas. Não acompanho a modalidade de perto e pelo que via nos noticiários a esperança de uma medalha era depositada em Diego Hipolyto, que já vinha de resultados expressivos em outras competições. Diego não conseguiu chegar às finais do solo e quando não se esperava mais nada da ginástica veio Zanetti e ganhou o ouro. Pelo que li foi surpresa não só para os torcedores, mas até para os adversários. Contudo, não foi uma surpresa para Zanetti. Ele se preparou para isso. Vi uma entrevista do brasileiro e percebi três aspectos essenciais em sua conquista. Primeiro que ele, nos últimos 2 anos, treinou de forma exaustiva as séries que apresentou. Fora, por óbvio, o treinamento anterior não específico. Em segundo lugar, aproveitou o fato de não ser favorito para permanecer como coadjuvante até o momento certo. Manteve-se concentrado e sem alardes, com o foco em seu objetivo. E usou esse quase anonimato quanto às suas possibilidades para não criar pressão em relação a si mesmo. Para isso adotou uma estratégia muito interessante: na fase de classificação apresentou uma série mais fácil (se é que se pode dizer isso) que lhe garantiu a vaga entre os finalistas. E só na fase final é que “tirou da cartola” a série quase perfeita e com maior nível de dificuldade que lhe trouxe a medalha de ouro.
Achei essa estratégia de Arthur Zanetti muito interessante. Trabalhar firme para atingir o máximo possível de perfeição, manter a tranqüilidade e a concentração, utilizar a série menos complicada para garantir uma primeira meta que era estar entre os finalistas e, por fim, apresentar o melhor e brilhar quando esse melhor precisava aparecer. Está aí uma grande lição para todos nós. Muitas vezes queremos o resultado e esquecemos de nos preparar para ele. Em outras estamos preparados e acabamos derrubados pelo envaidecimento em torno do nosso sucesso inicial. E também há situações em que estamos tão ansiosos pelo resultados que mostramos nosso melhor antes da hora, criando a possibilidade para que alguém venha e, no momento certo, faça ainda melhor. Ou sem que consigamos repetir os nossos resultados anteriores, que já passam a ser no mínimo esperados.
Saindo da ginástica, vamos para o basquete masculino. O time brasileiro, depois de 16 anos fora dos jogos, fez um campeonato muito bom, terminando em 5º lugar. Mas foi o jogo do Brasil contra a Espanha, na primeira fase, que chamou a atenção. Quem perdesse evitava confronto com os Estados Unidos e seu famoso "Dream Team" antes da final. A Espanha nitidamente não fez força para ganhar. Aliás, em toda primeira fase a Espanha não fez muita força. Depois, no mata-mata, jogou muito e ganhou da França, da Rússia e chegou à final contra os Estados Unidos, fazendo um jogo duro, em que os americanos tiveram que suar para vencer.
Fiquei pensando sobre esse jogo do Brasil com a Espanha, na estratégia do Brasil em vencer e da Espanha em não estar muito preocupada em ganhar. No fim pareceu-me que ambos tinham suas razões nas estratégias que adotaram, considerando seus objetivos na competição. Vejam bem, o Brasil estava voltando aos jogos olímpicos depois de 16 anos. Tinha que ir lá e jogar, vencer o máximo possível. E se ganhasse qualquer medalha já era um sonho realizado. Então enfrentar Estados Unidos na semifinal não seria um pesadelo. Ainda restaria a disputa do bronze. E antes de tudo isso ainda tinha de ganhar o jogo das quartas-de-final (que acabou perdendo). Então tinha que nas quartas-de-final tentar o adversário que fosse menos complicado. Já a Espanha, vice-campeã mundial e reconhecidamente o segundo melhor time de basquete do mundo, queria lutar pelo ouro. A prata era até uma obrigação. O sonho era a medalha de ouro. Então adotou a estratégia de não forçar o ritmo na primeira fase, evitar o cruzamento com os americanos na semifinal e chegar com o gás todo para lutar pela medalha de ouro na final (como de fato fez, quase complicando a vida dos astros da NBA).
O que me parece interessante disso tudo, que podemos levar para além do esporte, são duas coisas. Primeiro, que cada um precisa adotar as estratégias conforme seus objetivos. Não dá para seguir pelas estratégias e aspirações dos outros. Segundo, que muitas vezes é preciso saber dosar as forças e a preparação para estar na melhor condição na hora decisiva, como fez a Espanha. No estudo para concursos, por exemplo, não adianta nada estudar de forma exaustiva no início, passar em todas as provas e chegar na hora decisiva, da prova oral, totalmente exaurido, sem forças para ler mais uma vírgula. Aí todo o trabalho anterior poderá se perder.
Mudando de basquete para futebol masculino, o time brasileiro nos mostrou também algo a ser considerado. A importância da concentração nos momentos de decisão. Depois de ótimas exibições na primeira fase e na semifinal o Brasil entrou desatento e levou um gol com 30 segundos de jogo. Infelizmente não foi possível recuperar esse gol sofrido e agora o sonho dourado do futebol ficou para o Maracanã, em 2016. Antes, porém, o Brasil irá conquistar o hexa na Copa de 2014. Então, trabalhar a capacidade de manter a concentração é algo fundamental. Especialmente quando a situação é complexa, em que qualquer erro pode ser irreversível.
Por fim, a lição especial veio do vôlei feminino. Uma equipe caindo pelas tabelas na primeira fase e que se classificou pela combinação de resultados para as quartas-de-final. Mas na fase de mata-mata tudo mudou. Não propriamente no nível técnico do time, que sempre foi bom. Mas na motivação e na vontade de vencer. Se não dava certo na técnica, ia na raça, no brilho nos olhos das jogadoras brasileiras. Uma vitória espetacular sobre a Rússia e uma final incrível contra os Estados Unidos. Quando parecia, no primeiro set, que as americanas iriam levar o ouro fácil, o Brasil superou todas as expectativas. Para nós, além da alegria da vitória, o que podemos levar de lição é que treinamento, dedicação, técnica e estratégia não são os únicos elementos que levam à vitória. A vontade de vencer, o acreditar que é possível e a entrega pessoal de corpo e alma a um objetivo tem um poder que supera a nossa capacidade de compreensão de como as coisas acontecem. E aí surgem vitórias inacreditáveis e emocionantes como essa do nosso vôlei feminino. Vitórias "impossíveis" que podem ser obtidas de forma semelhante pelas pessoas no transcurso da vida.
É isso, meus caros. Tenho certeza de que se cada um pensar um pouco sobre o que viu nos Jogos Olímpicos de Londres vai encontrar muitas outras lições que o esporte nos permite aprender. A maior delas, por certo, é que vencer e perder faz parte da vida. O importante é buscar novas conquistas, aprender nas derrotas e saber que o mais importante é competir, quer dizer, viver.
Um abraço,
Emmerson Gazda
Muito bacanas tuas reflexões. Me faz pensar que tantas boas lições podemos aprender quando curtimos algo que gostamos, como os jogos olímpicos por ex. Acontece quando estamos focados, buscando crescimento. Temos então insights até quando vemos uma criança brincando. Parabens. Sérgio Mendonça
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